Interessante assinalar que Weber escreveu uma primeira versão desse texto, publicando-o na revista Archiv für Sozialwissenchaft em dois momentos, uma primeira parte em 1904 e uma segunda parte em 1905, nas quais já contava a palavra espírito entre aspas, e, que na sua revisão de 1920 será suprimida. Também é importante assinalar que entre a primeira parte publicada em 1904 e a segunda em 1905, Weber visitou os EUA, conforme consta de um depoimento de sua viúva Marianne Weber;
"A primeira parte foi concluída antes da viagem à América, no início do verão de 1904; a segunda parte apareceu um ano depois e revela a influência dessas suas experiências recentes. Uma das tantas razões, com certeza não a menor, para que essas experiências tenham instigado Weber tanto assim foi que nos Estados Unidos ele pôde observar por todo canto os rastros vivos das origens do espírito do capitalismo moderno, e esse espírito mesmo na pureza de um ´tipo ideal."A tradição do pensamento social alemão desde Marx parece reforçada pela comparação com o estrangeiro, a América do Norte, potência emergente no começo do século XX, que serve na construção do raciocínio como espelho da diferença, que mostra ao pensador alemão suas amarras e condicionamentos. No livro são constantes as citações de Weber a Benjamim Franklin, um dos father foudings dos EUA, uma das mais longas é usada para definir o "espírito" do capitalismo, que como um sermão define os pontos relevantes de uma prática cotidiana pretensamente exemplar.
Primeiro, "lembra-te que tempo é dinheiro", com a qual Benjamim Franklin condena o tempo livre quando se abre a possibilidade para vagabundear. Logo depois ele menciona "lembra-te que crédito é dinheiro", com isso defende a ideia de quem tem bom crédito pode fazer bom uso dele. Em terceiro determina, "lembra-te que o dinheiro é procriador por natureza e fértil." defendendo a ideia de que dinheiro bem investido produz mais dinheiro de forma independente. Em quarto menciona, " lembra-te que um bom pagador é senhor da bolsa alheia", no qual defende a idéia de rígido cumprimento do pagamento dos empréstimos, para garantir a continuidade do crédito. E, em quinto e último afirma, "guarda te de pensar que tudo o que possuis é propriedade tua e de viver como se fosse", no qual defende a ideia de uma justa contabilidade de receitas e despesas, para que se tenha consciência dos pequenos gastos cotidianos que se avolumam em grandes somas. Fechando toda essa pregação Weber conclui;
"'Do gado se faz sebo; das pessoas dinheiro', então salta à vista como traço próprio dessa 'filosofia da avareza' o ideal do homem honrado digno de crédito e, sobretudo, a ideia do dever que tem o indivíduo de se interessar pelo aumento de suas posses como um fim em si mesmo."Outro aspecto importante do livro é a distinção feita dentro da ética protestante, entre o luteranismo dominante na Alemanha e o calvinismo presente na França, Holanda, Inglaterra e Nova Inglaterra (EUA). Na mesma direção de um pensamento social, que busca o outro para pensar sobre si mesmo, o alemão Weber identifica na doutrina calvinista o verdadeiro impulso do espírito capitalista, que continuamente promove o auto enrriquecimento. Mais uma vez, há aqui a presença de um posicionamento recorrente na sociologia alemã, que se envolve com uma baixa estima própria, ou complexo de vira-latas, na definição de Nelson Rodrigues. Penso no livro A ideologia Alemã de Marx, onde o grande pensador social alemão do século XIX se propõe a explicar o paradoxo entre o grande desenvolvimento da filosofia germânica, e seu atraso na construção do seu governo próprio. Afinal, o atraso alemão na constituição de seu estado nacional e na construção de uma democracia era um fato frente a França e a Inglaterra, que já haviam promovidos suas revoluções.
Mas o que parece ficar de uma reflexão complexa de Weber, que envolve estudos aprofundados sobre as diversas correntes do protestantismo, como o calvinismo, o prebisterianismo, o pietismo, e outras é que a ética da produção do auto-enriquecimento é um forte impulso do capital e das religiões da reforma, e que, quase sempre envolve uma tendência monopolista. Onde apenas poucos realizam essa tendência, e muitas vezes suprimindo com a concorrência, seja ela qual for.