
A questão central de Byrne parece ser a leitura que a contemporaneidade faz do passado, e a dificuldade das sociedades humanas de controlar suas aspirações para o futuro. O tempo da materialização das leituras feitas pela contemporaneidade do passado, que são sempre parciais e efêmeras, acabam por denunciar o caráter arbitrário do projeto, que precisa da escolha. Na caracterização, que fez de Paladio e dos arquitetos de uma maneira geral, quando se confrontam com as pré-existências, diante das cidades medievais italianas, assumem a posição de agentes da contemporaneidade. Nas palavras de Byrne; "os arquitetos são como remadores, que remam voltados para a partida e de costas para a chegada, de costas para o futuro e de frente para o passado." Repetindo Walter Benjamim, na sua descrição do anjo da história de Paul Klee:
"Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que
parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão
escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse
aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de
acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína
sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os
mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se
em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o
impele irresistivel-mente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o
amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos
progresso." BENJAMIM, Walter - Passengwerke
Estamos diante de um velho paradigma da modernidade, que se inicia lá no distante renascimento italiano, quando se confronta com contínuos construídos de longa duração e maturação, a superposição da auto-justificativa que celebra a racionalidade. Enfim, como afirmou Byrne: "Toda arquitetura é um ato de reciclagem."