Interessante, como a análise feita por Marx do sistema capitalista é uma apurada interpretação dos nossos tempos contemporâneos. Algumas das tendências do sistema capitalista foram descritas por ele em meados do século XIX, e permanecem atuais e se materializando diante dos nossos olhos.
A tendência do sistema a buscar a forma monetária, o papel moeda que realiza o lucro, e acaba por desenvolver um imenso processo especulativo, onde a representação da produção (ação) se desvencilha da efetiva realidade das empresas, ganhando uma espiral especulativa, onde moeda ganha capacidade de gerar mais moeda, é um fato. A hegemonia do capital financeiro em nosso mundo contemporâneo, onde o mercado de produtos financeiros produz uma febre especulativa capaz de quebrar o sistema de financiamento de casas nos EUA no ano de 2008 é também um fato, e está entre as previsões do autor do O Capital. A fetichização de algumas mercadorias, que passam a encarnar valores muito além de seu uso efetivo, passando a simbolizar status e poder por si só, também é uma tendência da contemporaneidade. Por tudo isto o sistema tendia a uma constante instabilidade e volatilidade, que se repete em ciclos de crises que se repetem ao longo de sua história.
"...o máximo desenvolvimento da força produtiva e a máxima expansão da riqueza existente coincidirão com a depreciação do capital, a degradação do trabalhador e o mais estrito esgotamento de suas capacidades vitais. Essas contradições levam a explosões, cataclismos, crises, nas quais, pela suspensão momentânea do trabalho e a destruição de grande parte do capital, este último é violentamente reduzido até o ponto em que pode seguir empregando plenamente suas capacidades produtivas sem cometer suicídio. Contudo essas catástrofes regularmente recorrentes levam a sua repetição em uma escala mais elevada...." MARX, Karl - Grundissse - apud HARVEY, David - Os limites do Capital - Editora boitempo São Paulo 2009 pg 280
Ver abaixo o que publicou a Rolling Stones sobre o mesmo assunto...
http://www.rollingstone.com/music/news/marx-was-right-five-surprising-ways-karl-marx-predicted-2014-20140130
Diário de Pedro da Luz Moreira, interessado em discutir a arquitetura, a cidade e o projeto
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014
Concurso não segue boas práticas
Prezados companheiros leitores deste blog, nos últimos dias tomamos conhecimento do lançamento de um concurso público de projetos para o edifício anexo do BNDES no Rio de Janeiro, promovido por esta entidade, e com clausulas absolutamente inaceitáveis principalmente no que concerne a integridade do projeto e com relação a autoria. O item que denuncia uma intenção perversa do citado Banco de Desenvolvimento com relação a integridade do projeto e sua autoria está presente na página 06 do citado edital, na qual consta a seguinte redação:
"Para a formatação deste Concurso, o BNDES procurou adotar as melhores práticas de mercado dos concursos de arquitetura conjuntamente com o entendimento do Tribunal de Contas da União no sentido da impossibilidade da contratação do vencedor do concurso para o desenvolvimento dos projetos básicos e executivo decorrentes do anteprojeto vencedor (conforme Acórdão n.º 3361/2011 e revogação da Súmula 157). "
Melhores práticas? Ou, preservação de interesses das empreiteiras? Fica claro, no texto acima a intenção de não contratar o projeto vencedor para seu desenvolvimento até a materialização da obra. Por que?
Além deste ponto o concurso traz no seu anexo IV os termos que definem os critérios da cessão integral da autoria do anteprojeto, que reforçam a interpretação de um procedimento que não privilegia o projeto em sua integridade. Um verdadeiro absurdo!
Por estas e por outras é que se desaconselha a participação num certame desta natureza, onde o projeto é visto de forma fragmentada e fragilizado.
Abaixo o link do concurso
http://www.bndes.gov.br/ SiteBNDES/bndes/bndes_pt/ Hotsites/Concurso_Anexo_BNDES/ Edital/
"Para a formatação deste Concurso, o BNDES procurou adotar as melhores práticas de mercado dos concursos de arquitetura conjuntamente com o entendimento do Tribunal de Contas da União no sentido da impossibilidade da contratação do vencedor do concurso para o desenvolvimento dos projetos básicos e executivo decorrentes do anteprojeto vencedor (conforme Acórdão n.º 3361/2011 e revogação da Súmula 157). "
Melhores práticas? Ou, preservação de interesses das empreiteiras? Fica claro, no texto acima a intenção de não contratar o projeto vencedor para seu desenvolvimento até a materialização da obra. Por que?
Além deste ponto o concurso traz no seu anexo IV os termos que definem os critérios da cessão integral da autoria do anteprojeto, que reforçam a interpretação de um procedimento que não privilegia o projeto em sua integridade. Um verdadeiro absurdo!
Por estas e por outras é que se desaconselha a participação num certame desta natureza, onde o projeto é visto de forma fragmentada e fragilizado.
Abaixo o link do concurso
http://www.bndes.gov.br/
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
Concurso do BNDES não segue boas práticas
O concurso de projetos lançado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para construção do seu anexo na Avenida República do Paraguai na cidade do Rio de Janeiro não segue as boas práticas desta matéria. Para começar, o concurso não garante a contratação do vencedor para desenvolvimento do projeto executivo, fatiando a atividade, e tirando a importância da questão da autoria. Um segundo ponto a ser destacado é que o concurso destaca o famigerado Acórdão no 3361/2011, que proclamou o absurdo; "da impossibilidade de contratação do vencedor do concurso para o desenvolvimento dos projetos básicos e executivos decorrentes do anteprojeto vencedor" (Página 06 do Edital do BNDES). Esse acórdão do TCU é um verdadeiro absurdo, pois afirma que a concepção inicial de um projeto não pode ser desenvolvida até sua materialização como obra construída, pelo mesmo autor. A questão é muito grave, pois nos mostra de forma clara e transparente como um judiciário desinformado, da efetiva prática do projeto, pode determinar procedimentos pouco transparentes na contratação de obras públicas. Por essas duas questões percebe-se que o Edital não dá protagonismo a atividade de projeto, mantendo-a na minoridade, sem a carga de responsabilidade que ela demanda, tanto na questão da autoria, quanto no problema da integridade do processo. Esta atitude sinaliza que o BNDES permanece se resguardando por trás de uma atitude intransparente, que pretende esconder as reais intenções do desenho da sua futura edificação Porque?
Por estas questões é que o IAB-RJ não está a frente da promoção deste concurso, pois se recusou a aceitar tais condições...
Abaixo entrevista que concedi a EBC.
http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2014-02/bndes-lanca-concurso-publico-para-escolha-de-projeto-de-arquitetura
Por estas questões é que o IAB-RJ não está a frente da promoção deste concurso, pois se recusou a aceitar tais condições...
Abaixo entrevista que concedi a EBC.
http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2014-02/bndes-lanca-concurso-publico-para-escolha-de-projeto-de-arquitetura
sábado, 22 de fevereiro de 2014
Artigo no O Globo de hoje discute Guaratiba
O meu artigo no jornal O Globo de hoje, 22 de fevereiro de 2014 discute a área de Guaratiba, que entrou na pauta da cidade com a visita do papa Francisco em julho de 2013. Defendo a idéia de que Guaratiba deve ser preservada e conservada devido suas fragilidades ambientais. Defendo também que a área consolidada da região receba as infraestruturas urbanas, tais como esgoto sanitário, drenagem, abastecimento de água, iluminação, calçamento, arborização, etc..., garantindo a quem mora nessa região as comodidades da vida urbana. Aliás não é aceitável, que em pleno século XXI a oitava economia conviva com cidades com os atuais índices de saneamento (52% dos domicílios brasileiros não destinam de forma correta seu esgoto).
Guaratiba é um exemplo notável da situação em que se encontra a cidade brasileira, uma região periférica, uma imensa área intocada até recentemente, que se disponibiliza para uma ocupação imobiliária intensa, dentro de uma lógica imediatista, rasteira e apressada. É importante lutar, a partir do caso de Guaratiba, para a transformação do modus operandi da cidade brasileira, revertendo uma lógica perversa que governa essas expansões impensadas.
Guaratiba é um exemplo notável da situação em que se encontra a cidade brasileira, uma região periférica, uma imensa área intocada até recentemente, que se disponibiliza para uma ocupação imobiliária intensa, dentro de uma lógica imediatista, rasteira e apressada. É importante lutar, a partir do caso de Guaratiba, para a transformação do modus operandi da cidade brasileira, revertendo uma lógica perversa que governa essas expansões impensadas.
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014
A aceleração do mundo, pressa para quê?
Em 1867 Karl Marx escreveu sobre as mudanças tecnológicas que determinaram a diminuição do tempo de circulação das mercadorias, e uma certa aceleração do momento;
"Mas a revolução no modo de produção da industria e da agricultura provocou também uma revolução nas condições gerais do processo de produção social, isto é, nos meios de comunicação e transporte, que foram gradualmente ajustados ao modo de produção da grande industria por meio de um sistema de navios fluviais transatlânticos a vapor, ferrovias e telégrafos." MARX, Karl - O capital - editorial Boitempo 2013 São Paulo
Em nossa época, os aviões, os carros e a internet garantem um grau de conectividade à produção que é assustador. O tempo que o capital tende a ficar imobilizado antes de realizar o lucro diminuiu de forma acentuada, o mundo parece tender para uma aceleração cada vez mais intensa. Neste inicio de ano de 2014, todos temos a sensação de estarmos acelerados, sempre conectados e interligados. As demandas do trabalho chegam nas mais diversas horas e nas ocasiões mais diversas, estamos condenados a receber e a gerar demandas a todo momento. Basta que alguém te ligue ou mande uma mensagem, que logo nos reprogramamos para ativar circuitos e redes. No entanto esta aceleração da quantidade de informações que manipulamos e geramos acabou significando a perda de sentido e de direção para o mundo, uma certa dissolução do objetivo. Corremos muitas vezes sem ter um objetivo maior, um sentido para nossa pressa, simplesmente respondemos pois estamos sendo solicitados a responder. Por isso, selecionei algumas frases de mestres para combater a febre da pressa:
"Não se alcança o coração de alguém com pressa" Luiz Fernando Veríssimo
"Não se afobe não. Que nada é pra já. O amor não tem pressa. Ele pode esperar em silêncio. Num fundo de armário. Na posta restante. Milênios, milênios..." Chico Buarque de Holanda
"Mas a revolução no modo de produção da industria e da agricultura provocou também uma revolução nas condições gerais do processo de produção social, isto é, nos meios de comunicação e transporte, que foram gradualmente ajustados ao modo de produção da grande industria por meio de um sistema de navios fluviais transatlânticos a vapor, ferrovias e telégrafos." MARX, Karl - O capital - editorial Boitempo 2013 São Paulo
Em nossa época, os aviões, os carros e a internet garantem um grau de conectividade à produção que é assustador. O tempo que o capital tende a ficar imobilizado antes de realizar o lucro diminuiu de forma acentuada, o mundo parece tender para uma aceleração cada vez mais intensa. Neste inicio de ano de 2014, todos temos a sensação de estarmos acelerados, sempre conectados e interligados. As demandas do trabalho chegam nas mais diversas horas e nas ocasiões mais diversas, estamos condenados a receber e a gerar demandas a todo momento. Basta que alguém te ligue ou mande uma mensagem, que logo nos reprogramamos para ativar circuitos e redes. No entanto esta aceleração da quantidade de informações que manipulamos e geramos acabou significando a perda de sentido e de direção para o mundo, uma certa dissolução do objetivo. Corremos muitas vezes sem ter um objetivo maior, um sentido para nossa pressa, simplesmente respondemos pois estamos sendo solicitados a responder. Por isso, selecionei algumas frases de mestres para combater a febre da pressa:
"Não se alcança o coração de alguém com pressa" Luiz Fernando Veríssimo
"Não se afobe não. Que nada é pra já. O amor não tem pressa. Ele pode esperar em silêncio. Num fundo de armário. Na posta restante. Milênios, milênios..." Chico Buarque de Holanda
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
Filme destaca a tradição e a modernidade das pedras portuguesas
O filme de Marco Antonio Pereira destaca a tradição de nossas calçadas em pedras portuguesas. A promoção do filme seleciona dois trechos de uma entrevista minha feita no Boulevard 28 de setembro em Vila Isabel, projeto do Rio Cidade do escritório Archi 5 arquitetos associados, do qual fui sócio durante muitos anos. Muito além dos depoimentos, acho importante enfatizar a necessidade que as cidades brasileiras possuem de valorizar seus espaços públicos, como locais que deveriam privilegiar o caminhar dos seus pedestres. A celebração das calçadas promovida pela técnica das pedras portuguesas nos remetem ao caminhar urbano, como um cotidiano que deveria ser privilegiado pelas gestões municipais.
Veja a promo do filme abaixo
https://www.youtube.com/watch?v=YDk964pkJxI&feature=youtu.be
Veja a promo do filme abaixo
https://www.youtube.com/watch?v=YDk964pkJxI&feature=youtu.be
Guaratiba, em busca de maior participação
O debate na verdade reafirmou o documento entregue pelo IAB-RJ ao prefeito do Rio de Janeiro em outubro de 2013, que cobrava do poder público um maior protagonismo na definição do futuro da área, uma cobrança por um planejamento sistêmico e uma gestão e controle cotidiano de Guaratiba. Além disto, o debate também enfatizou a necessidade de ampliação da participação da população local na definição do seu futuro. As questões envolvidas no tema de Guaratiba, transcendem em muito os interesses locais e apontam para a possibilidade de estabelecimento de uma nova forma de interação entre população e planejamento territorial.
Para mais detalhes, veja o link abaixo...
http://www.iabrj.org.br/debate-publico-reforca-importancia-da-elaboracao-de-plano-geral-para-guaratiba
Debate sobre viagem a Cuba em 1963 por estudantes brasileiros para congresso da UIA
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O debate com o autor Cesar Dorfmann no IAB-RJ |
Uma das questões levantadas no debate no dia 10 de fevereiro no IAB-RJ foi exatamente sobre os debates mais candentes, que perpassavam as falas dos estudantes de arquitetura na ida a Cuba. O autor do livro Cesar Dorfmann afirmou que a discussão política dominava os debates, deixando de lado as questões relativas à arquitetura e ao urbanismo. Estranho, como seria possível abordar questões relativas a ocupação do espaço, ou da construção do ambiente humano, apenas enquanto técnica ou instrumental, sem menção à política? O nosso mundo contemporâneo parece me muito mais complexo, perpassado por uma impossibilidade de separação destas esferas.
Mas o mais importante do evento é que ele resgata uma tradição importante, que deveria ter um cunho mais sistemático; o resgate de vivências diferenciadas que nos faz refletir sobre as atuações profissionais mais variadas. O depoimento dos vários participantes da viagem formam um interessante conjunto sobre os impasses e possibilidades do ofício da arquitetura, e, deveria ser uma atividade mais recorrente entre nós...
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
Istambul, uma cidade maravilhosa
Vista da cidade de Istambul da torre de Galata para o casco mais antigo |
A grande diversidade do Grand Bazar |
Por outro lado, há na cidade de Istambul na gênese da sua morfologia de espaços públicos (ruas e praças) outra importante lição para nós arquitetos. A espacialidade de suas ruas, vielas, becos e mesmo pequenas praças se assemelha em muito ao desenvolvimento de nossas favelas no Brasil. Ambas seguem a tradição da cidade árabe e também medieval, que possuem uma gênese na qual, a casa, o espaço particular ou privado, antecede ao espaço público, da rua, como primeira conformação. Muito além de uma simplificação celebratória, o que Istambul nos ensina é que o espaço da favela possui potencialidades e qualidades, que quando recebem as devidas atenções públicas, via urbanização e oferecimento de infraestrutura urbana adequada podem se tornar em espaços muito agradáveis e aprazíveis.
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